domingo, 11 de abril de 2010

Surpresa

Ontem, ao realizar uma leitura sobre tipos de solo com os alunos, fiquei muito surpresa ao descobrir que uma aluna não conseguia ler porque o texto estava escrito em letra cursiva. Inicialmente nem acreditei, afinal, já estamos praticamente na metade do mês de abril e, como pode uma professora não perceber este problema? Mas, enfim, fui tentando com ela, palavra por palavra, letra por letra e apenas algumas letras ela identificava. Travou completamente e não saia nada. Os colegas começaram a ficar impacientes e tratei, então, de verificar com ela se na escola de onde veio não trabalhavam com este tipo de letra e ela assegurou que não trabalhavam. Fiquei preocupada com a reação dos alunos e depois busquei em casa, algo que justificasse meu temor. Encontrei assim na interdisciplina de Linguagem e Educação:"Quando a comparação é realizada, estamos a um passo de concepções deficitárias de grupos minoritários (Lemos, 1983; Erickson, 1987; Soares, 1986), concepções estas perigosas pois podem fornecer argumentos para reproduzir o preconceito, chegando até a criar duas espécies, cognitivamente distintas: os que sabem ler e escrever e os que não sabem". (Práticas de Leitura, Escrita e Oralidade no Contexto Social – Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola; KLEIMAN – 2006).
O trecho acima, mostrou-me que a aluna poderia sim, sofrer preconceito por parte dos demais colegas caso eu permitisse que levassem adiante os comentários e não os levasse a reverter a intolerância em reflexão e auxílio.
Expliquei, então aos colegas o que estava acontecendo e os convidei a ajudarmos a colega. Felizmente foram solidários e disseram que estavam dispostos a ajudar. Uma amiga combinou de ir à sua casa a tarde para "estudarem" as letras. De minha parte, tratei de tranquilizá-la a fim de que este fato não a marcasse negativamente. Falei que achava interessante o que estava acontecendo e que me ajudou a perceber o quanto podemos aprender com as situações simples e corriqueiras da sala de aula. Que ela havia sido corajosa em tentar ler e em assumir que não sabia. Disse que traria na segunda-feira um alfabeto com os diferentes tipos de letras e atividades que a auxiliassem e que ficasse sossegada que não seria obrigada a utilizar a cursiva se preferisse a script, mas que era importante que ela conseguisse lê-la. Já providenciei material mostrando o traçado correto das letras e levarei na segunda-feira. Espero sucesso para ela e para mim, diante deste novo desafio.

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Rosângela, penso que foi uma boa condução, pois ao mesmo tempo em que deste a liberdade para ela continuar com a sua escrita, criou alternativas para ela se aproximar da escrita cursiva, além de mobilizar a turma contra o preconceito. Abraços!!